sexta-feira, 23 de julho de 2010

Estranhos objetos


Não me lembro bem, mas o primeiro contato com o estranho objeto foi na casa de minha mãe, em João Pessoa. Tinha sido presenteado por uma caridosa vizinha, que tinha comprado dois e fez um gesto de gentileza ao doar um exemplar de tão esquisita coisa. A minha mãe adorou o aparelho, todos fabricados em cores berrantes, provavelmente na China, lugar em que se faz tudo que é consumido no mundo de hoje.

No entanto, a estranha máquina futurista não funcionava sem estar carregada. No cabo, embutido, saia um par de chifres metálicos que mesmo sem fios poderia ser conectado em qualquer tomada da rede elétrica. Um infernal e minúsculo led vermelho avisava que a máquina fatal estava sendo alimentada, como se engolisse o veneno vindo da parede. Assim, a estréia de tão útil maquinário foi adiada para o sábado, numa propícia manhã de sol.

Carregada, ela era um perigoso objeto que não deveria cair em mãos despreparadas ou inábeis como as das crianças. A estranha máquina deveria ser empunhada e seu mecanismo deveria ser acionado quando da mínima proximidade das vítimas. Confesso que experimentei a sensação ligar a máquina, empunhá-la como um soldado americano e direcioná-la para algum inseto intrometido e zaaaz!! Jazia eletrocutado um maribondo perigoso. Ele não morreu logo da descarga elétrica, agonizante a criatura atingida pela crueldade moderna da raquete elétrica para insetos olhava para mim. O arrependimento foi instantâneo e desproporcional ao prazer de empunhar o estranho objeto vindo do Oriente.

Hoje a cada esquina eles estão sendo oferecidos pelos camelôs nas ruas centrais de Campina Grande. Kafkiano assumido, hipoteticamente fico pensando na reação do caixeiro viajante Gregor Samsa ou mesmo de um Franz Kafka (1883-1924) ao ver o tão esquisita máquina fruto do avanço da ciência chinesa ou indonésia. Ou mesmo observar um Nabokov, autor de Lolita, amante das borboletas e colecionador de várias espécies ver uma dona de casa queimar as asinhas amarelas ou azuis de tão delicado inseto.

Mesmo sem ter a agilidade de um Guga, minha mãe foi pioneira neste novo esporte olímpico que já se consolida no Brasil: o tênis de inseto. Ela desistiu da raquete e repassou o mortal artefato para outra vizinha.

Inimiga da biodiversidade, a raquete elétrica espalha-se como uma peste de mosquito da dengue, voando baixo pelo centro, sucesso de vendas. Fatal para moscas, muriçocas, mariposas ou borboletas, a máquina da China é uma espécie de “cadeira elétrica” do vôo. Guerreiros, os maribondos se organizam na resistência.

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