sexta-feira, 23 de julho de 2010


Neste final de semestre fui convidado para compor a banca examinadora do vídeo documentário “Cheiros e Cores da Feira”, dos jovens formandos Allan Cleyton e João Matias, ambos do Curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UEPB, orientandos do nosso Rômulo Azevedo. Trata-se de um vídeo de cerca de dez minutos nos leva a passear como turistas ingênuos pela Feira Central, esse patrimônio da cultura paraibana. Nestes tempos de modernização dos espaços públicos, o documentário da dupla já parece ser um registro importante do estado do lugar.
O escritor Lima Barreto em seu “Feiras e mafuás” nos dá conta das ambigüidades deste antigo lugar e modo de comércio, circulação de pessoas e mercadorias, que representa ao mesmo tempo nossa riqueza e contradições do espaço urbano. Ou seja, a feira é uma síntese do que nos somos, um manifesto vivo e pulsante de nossas limitações e possibilidades. Bem disse o cronista paraibano Gonzaga Rodrigues recentemente que a cidade nasceu com a feira. E ao redor da feira se fez grande, Campina. Passear pela feira é uma aventura antropológica. Basta lembrar as fotos produzidas por um Roberto Coura tempos atrás. E assim que deve ser encarada a empreitada, como uma atividade didática nas áreas de jornalismo e antropologia. Foi com essa perspectiva que aconteceu também no primeiro semestre um dia de campo na Feira Central com os estudantes que compõem nosso Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Literatura da UEPB, UFCG e UFPB.
Eu que acreditava estar de “férias” longe dos mercados, fui convidado pelos amigos Júnior e Eripetson para “mussarrar” na Feira de Patos. Estranhei logo de saída o curioso nome e eles me explicaram que “mussarrar” é passear numa feira perguntando o preço de tudo, do mais caro ao mais ordinário item, sem ao menos comprar sequer um friso, para agonia dos comerciantes e vendedores.
Confesso que o termo “mussarrar” ficou ecoando na minha cabeça, como se fosse possível prever uma etimologia árabe antiga. Recorri aos dicionários e ao mundo virtual, mas nada. Nada de aparecer o termo mussarrar. O que consegui foi pouco e incerto e está situado na Índia antiga. Dizem que nas origens do povo Musahar é contada numa lenda que o deus hindu da criação deu aos homens um cavalo de passeio. E o primeiro Musahar decidiu cavar buracos na barriga do bicho para fixar melhor os pés enquanto cavalgava. Ofendido, o deus castigou os Musahar e os fez apanhadores de ratos. Hoje eles ocupam as regiões norte e sul da Índia. Abandonaram a ocupação de capturar ratos e se dedicam ao cultivo agrícola, como trabalhadores alugados. No entanto, ficou a marginalização grudada ao nome na Índia, uma vez que nada possuírem a não ser o próprio corpo. Entre a riqueza do cavalo dos deuses e a vida miserável e mundana do rato, somos todos mussarralés habitantes de cidades, shoppings, feiras e atacadões.

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