sexta-feira, 24 de abril de 2009

Alice na periferia do capitalismo



-“Quem quer dinheirooooo?! Quem quer dinheirooooo?!”
O repetido grito de Sílvio Santos ecoa infinitamente no tedioso programa dominical. Frenéticas, como num esdrúxulo harém midiático, as mulheres se agitam, tentando chamar a atenção. Querem ser escolhidas para que o “comunicador” estoure ovos de galinha nas suas cabeças. Tudo por dinheiro.
O filme vencedor do Oscar “Quem quer ser milionário?” parece caminhar no mesmo terreno no qual o veterano brasileiro já trabalha há bastante tempo. Como numa espécie de show do milhão, vence quem responder corretamente todas as perguntas do todo-poderoso apresentador.
Desses dois universos midiáticos bem semelhantes, Índia e Brasil, pescamos algumas notícias recentes, veiculadas em jornais. Destacamos duas meninas, uma brasileira e outra indiana, duas Alices perdidas na periferia do capitalismo.
A primeira, a pequena atriz Rubina Ali, de nove anos, que interpretou a personagem Latika quando criança no filme “Quem quer ser milionário?”, que recentemente segundo o site britânico de notícias “News of the World”, foi posta a venda pelo pai por 200 mil Libras (R$ 647 mil). “Essa é uma criança especial agora. Ela não é uma criança qualquer, é uma criança vencedora do Oscar”, justifica o pai Rafiq, morador de uma favela de Mumbai.
A segunda é a pequena e irreverente Maísa Alves, apresentadora do “Sábado Animado”, que após mexer no cabelo do apresentador e dono do SBT Sílvio Santos comenta sem a menor cerimônia: “É peruca! Ele usa peruca!”. Enquanto isso, no intervalo, nos comerciais, a pequena atriz vende sandálias infantis, brinquedos e outros produtos associados à sua imagem. Com um contrato de fazer inveja aos brasileiros que ganham um salário mínimo, Maísa parece dizer o que quer no ar, ao conversar com o patrão Sílvio Santos. “Por que você não namora a Hebe, Sílvio?”
Separadas, miséria e esplendor, essas duas pequenas Alices não vivem em países maravilhosos, habitam a periferia do capitalismo em crise. Perderam o assombro e a ingenuidade da Alice original de Lewis Carroll (1832-1898), que ao seguir o Coelho Branco passa a vivenciar um mundo mágico no qual animais falam e outras coisas estranhas acontecem. A caminho das Índias, os dois contraditórios países se unem para além da óbvia tela da novela das oito. As duas meninas midiáticas são mercadorias vivas sem infância. No “maravilhoso” e midiático mundo da ilusão a palavra infância rima perfeitamente com infâmia.

2 comentários:

Eliade Pimentel disse...

Oi, Carlos! Chamou a minha atenção esse título sobre Alices. Minha filha se chama Alice, amo esse nome e acho bacana essa "coincidência". Um beijo de quem nunca lembra sempre de você.

Eliade Pimentel disse...

Oi, desculpe! O beijo é de quem SEMPRE LEMBRA DE VOCÊ.