sábado, 25 de abril de 2009

A "romaria" de São Carrifêu



No terreno funcionava uma academia de tênis. Mas as raquetes foram aposentadas em pleno país do futebol. Assim, as quadras foram ficando ali, abandonadas, esquecidas, mato cobrindo tudo.
Surpreendeu todos os moradores do bairro universitário quando os caminhões foram despejando os operários, todos fardados de laranja, a cor da estação na capital. Alguns especulavam mais um posto de gasolina, outros não tinham a menor idéia do que poderia vir a ser construído. Grandes muros foram feitos para impedir que a curiosidade pública viesse atrapalhar o andamento das obras. No entanto, sondados, os operários entregaram o jogo, estão construindo sim as instalações de mais uma filial da de uma famosa rede de supermercados na zona sul da capital paraibana.
Da janela dos ônibus que cortam os Bancários e se dirigiam ao populoso bairro de Mangabeira, os passageiros puderam ver melhor que as obras progrediam. A estrutura de pré-moldados é despejada por carretas. Um imenso Lego vai ser montado por adultos e máquinas. Como um grande castelo de crianças, os vidros foram sendo colocadas, calçadas feitas, grandes etc. Agora, a população do bairro suspira e volta suas atenções para o grande dia da inauguração. “Tá perto, eles tão fazendo cera pra que fique perto do dia das mães”, confidenciou uma velha senhora, sempre confiável pelo seu talento para saber a veracidade de todo o tipo de boatos. Donos de padarias e mercadinhos já não dormem com medo da concorrência pesada que vem por aí.
Eis que o grande dia chegou. Um coquetel foi oferecido, mas a população ficou de fora porque era apenas para jornalistas e publicitários, formadores de opinião como garantia o release da empresa, divulgado nos jornais da cidade.
No dia seguinte, a romaria da gente “normal” começo logo cedo, amontoados na porta do estabelecimento, ansiosos, já começava a se criar animosidades na disputa por produtos eletro-eletrônicos pela metade do preço. Tevê de plasma, computador ou telefone celular, vai querer o quê? O sobe e desce das escadas rolantes apinhadas de gente lembra os parques de diversão. O estacionamento não comporta o grande número de carros dos fiéis mais abastados. O trânsito deve ser mudado em breve, pois tudo está um caos no antigo bairro dos estudantes universitários. E eis que para desespero de padres e pastores do lugar um novo culto se forma na zona Sul da cidade, um novo santo é louvado todos os dias por milhares de crentes. São Carrifêu é o nome dele. Francês, branco, de manto e olhos azuis para desespero ou alegria do presidente Lula. Os milagres do crédito superam a depressão da crise mundial, para o espanto dos estudiosos economistas e professores da UFPB, que trabalham logo ali e são vizinhos. Não sei até quando os estas coisas extraordinárias vão continuar acontecendo, não quero ser pessimista não...
Merece ser estudada a implantação da filial dessa famosa rede multinacional na zona sul da capital paraibana. Ótimas teses e dissertações nas áreas de antropologia do consumo ou sociologia das multidões sairiam dali, tudo milagre de São Carrifêu!

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